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terça-feira, 4 de setembro de 2007

Carrión de los Condes - San Nicolas del Real Camino

Hoje foi mais uma prova de que as fases do Caminho não podem ser tao previsíveis . amanheci bastante preocupado com as bolhas nos calcanhares.. mas como tinha feito um curativo na noite anterior com os algodoes de maquiagem, indicados por Loli, tinha tudo pra dar certo.. Acontece que no dia anterior dormi com as pernas um pouco inclinadas pra cima e durante a noite, e logo no inicio da manha, acordei com fortes dores no músculo ignal (se eh que esse o nome), perto da virilha.. resultado: não teve musica que eu cantasse pra espantar esta dor.. os primeiros 4 km foram infernais.. parando de 500 em 500 metros para me agachar e aquecer um pouco os músculos da coxa esquerda..

A beleza das paisagens, a solidão e a paz que emanavam dos campos de trigo ajudaram a esquecer um pouco a dor.. mas só depois de um telefonema muito especial e, dessa vez, começar a cantar sem um dos fones de ouvido, escutando minha própria voz, e, aliado a tudo isso, ter tomado um relaxante muscular (logico! ;), consegui finalmente superar as dores.. curiosamente, a dor da coxa fez eu esquecer das bolhas e, depois de superada, retomei o ritmo e completei os 30 km previstos até San Nicolas..


Antes de San Nicolas, alcancei o grupo que tinha partido comigo pela manhã quando faziam uma pausa no albergue que as "meninas" de Viñarós iam ficar.. ali pousamos pra esta foto antológica..

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segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Boadilla del Camino - Carrión de los Condes

Nesta etapa comecei a verificar que as 3 fases do Caminho (sofrimento físico até Burgos, autoconhecimento de Burgos ate Leon e espiritualismo de Leon ate Santiago) não são tão certas assim.. nesta etapa sofri um bocado as dores das minhas duas novas bolhas - uma em cada calcanhar..


Logo na porta do albergue está localizado um dos mais famosos Rollos Jurisdiccionales que, à semelhança dos pelourinhos nos quais amarravam os escravos no Brasil, aqui acorrentavam os ladrões e assassinos para serem punidos em praça pública..

Quando saí do albergue já eram mais 8h da manhã, um pouco tarde para o ritmo de um peregrino.. mas não tive outra alternativa pois precisava fazer umas "almofadas" para as bolhas com o algodão de maquiagem da Loli.. enquanto o tempo e o meu corpo ainda estavam frios, foi bastante difícil.. mas logo tive a ideia de colocar música no MP3, pois "quem canta seus males espanta".. e a maior coincidência (ou sinal do Caminho) foi ver que a primeira musica da biblioteca era a do J Quest, na qual o refrão dizia "ei dor, eu não te escuto mais! você  não me leva a nada.." e não eh que deu certo ;) comecei a cantar esta e outras.. relembrar também de outras pessoas queridas e pronto: esqueci que tinha bolhas nos pés..




Talvez o frio no inicio da manhã tenha sido mais forte porque andamos os primeiros quilômetros ao lado de um rio.. eu estava sozinho e a beleza da paisagem me fez logo esquecer a temperatura..










Nesta etapa encontrei algumas igrejas feitas com tijolos de barro, o que era novidade até esta parte do Caminho..










O curioso foi descobrir uma imagem de Nossa Sra da Conceição numa das destas igrejas.. de imediato pensei em minha irmã Rose que nasceu no dia 8 de Dezembro, seu dia santo.. desde ali, enviei bons fluidos pra ela..

Logo em seguida, em Villalcazar de Sirga, encontramos a igreja de Santa Maria de la Blanca.. uma igreja-fortaleza templária onde se encontram os túmulos de dois reis espanhóis e de um dos fundadores da Ordem dos Templários..












Em Villalcazar tambem reencontrei o Eloi e a Loli.. tomamos uma cerveja e retomei o Caminho com eles.. no entanto, como eu estava com as bolhas, achei melhor andar mais devagar e deixá-los a seu ritmo.. quando via os dois se distanciarem de mim surgiu uma placa que me encheu de ânimo: mais 2 etapas e eu chegaria na metade do Caminho, ultrapassando a marca simbólica de haver caminhado 400 km a pé . procurei o MP3 e comecei a cantar sozinho de novo.. passaram uns ciclistas por mim, com um olhar raro e depois comentaram sobre mim ao Eloi e à Loli: "hay cada loco en el Camino.." :) eles não viram que eu tava com fones de ouvido nem eu me apercebi que, com o vento, quem estava a uns 50 m à minha frente poderia escutar eu cantando partes das musicas - todo desafinado como eu mesmo.. rimos muito quando me contaram esta..

Pelas 15h cheguei em Carrión de los Condes.. busquei o albergue das freiras (monjas) e lá encontrei as "meninas" de Viñarós novamente..

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domingo, 2 de setembro de 2007

Hontanas - Boadilla del Camino



De Hontanas a Castojeriz, a etapa foi plana e de fácil trâmite, passando por ruínas e uma parte de asfalto..















Num momento em que reparei que no céu cruzavam muitos aviões, lembrei que já tinha passado de avião por ali algumas vezes.. e a sensação de estar vivenciando o terreno foi muito mais agradável que a de sobrevoá-lo.. e olha que adoro voar ;)


Logo cheguei a Castrojeriz, onde deveria ser meu destino no dia anterior.. Aqui, pela primeira vez tomei um café com as "meninas" de Viñarós.. vinham com um carro de apoio, onde uma delas guiava de povoado a povoado enquanto as outras caminhavam.. nem desconfiava como elas seriam importante mais adiante em meu Caminho..













Em Castrojeriz (dizem que foi fundada por Júlio Cesar), encontrei quase 1 km de antigas construções romanas.. entre elas, me chamou a atenção a lateral da Iglesia de Santo Domingo, do século XIV, onde haviam duas imponentes caveiras que estavam no muro lateral virado para a rua.. tinham as seguintes inscrições em latim:

 o mors o eternitas 

às quais nos lembram que "ou morremos ou nos eternizamos"..













Desta vez, parei de propósito antes do indicado pelos guias para poder aproveitar de outro oásis no meio do Caminho.. o segundo albergue com piscina, mas desta vez, bem melhor que o outro.. Na piscina, voltei a encontrar com dois peregrinos bascos "muy majos", Eloi y Loli, que no final do dia foram verdadeiros anjos pra ajudar a curar minhas duas novas bolhas, dessa vez nos calcanhares..





Por coincidência, ou não, enquanto o primeiro albergue era gerenciado por um espanhol apaixonado pelo Brasil, este segundo era de um espanhol que nasceu em Sorocaba, interior de São Paulo.. apesar de ter perdido o sotaque brasileiro, e de viver falando a todos os peregrinos que os sergipanos eram perigosos, além de ser paulista, o Dudu até parecia boa gente ;)


Forte abraço, Dudu..

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domingo, 26 de agosto de 2007

Logroño - Nájera

Acordei pelas 5h e tal da manha, depois de ter ouvido um zum-zum-zum no quarto pelas 3h, quando um peregrino saiu e o vento bateu a porta com toda a força.. outro que estava abaixo desse fez a maior confusao quando ele voltou - foi chamar a hospedeira e tudo.. o engraçado eh que este ultimo acordou mais gente do que o proprio barulho da porta.. aas vezes, no dia-a-dia, a gente ve muita gente que toma atitudes parecidas: ao inves de resolver o problema, reclama, envolve outras e soh piora as coisas.. aqui passou o mesmo.. alias, dia desses falavamos como encontramos todo tipo de gente aqui, igual aa sociedade que vivemos fora do Caminho..

Quando cheguei aa cozinha pra arrumar minha mohila e partir (para nao fazer barulho com os sacos dentro do quarto), encontrei uma Austriaca chamada Antonia que tambem fazia o mesmo.. ambos pensavamos que eramos os unicos do albergue a tentar sair pelas 6h da manha.. como tinhamos 27km de caminho, e o Sol ameaçava aparecer - como realmente aconteceu, seria mais prudente caminhar com a brisa fresca da manha do que o Sol escaldante dos campos de vinho da Rioja até as 16h, 17h.. aliás, vimos nos rostos e marcas de Sol dos peregrinos que chegaram por esta hora..

Outra benesse de haver chegado cedo ao albergue foi aproveitar a piscina municipal que estava do outro lado do rio e todos os peregrinos eram convidados.. o banho, apesar de um poouco frio - e talvez por isso, foi bastante saudavel a todos os musculos cansados do Caminho..


No final do dia, a Antonia (foto) me ajudou a furar uma segunda bolha que tinha começado no dia anterior.. antes que se transformasse em calo, ela deu um ponto com uma linha (que deixou pendurada para escorrer todos os fluidos da bolha) e passou desinfetante.. na verdade, as dores físicas e o acostumar do corpo a uma jornada de 20, 30km todos os dias, ja nao me incomodam mais.. agora é a mente que começa a filosofar mais e a pensar nos por quês do Caminho..

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